28 junho 2012

Fogões e montanhismo



Houve um tempo em que os montanheiros inexperientes que tinham de se defrontar com uma sessão de cozinha ao ar livre, se sentiam inspirados por um tipo de arte muito popular, a fogueira.



Para muitos, esta era a imagem típica de um acampamento, grupos de excursionistas reunidos em volta do calor de uma labareda, os potes fervendo alegremente, o aroma resinoso da madeira de pinho invadindo tudo e o fogo que os aquecia, dava luz e proporcionava, principalmente, uma fonte de calor para cozinhar.



Para muitos isto constitui uma recordação nostálgica que evoca visões de correrias juvenis no campo, do cheiro da madeira queimada, arrastado pelo vento. É até bem provável que essas chamas nos tragam à memória  agradáveis viagens sentimentais. Contudo,  devemos parar um pouco a nossa poética romântica divagação e concluir que, por muito românticas que sejam as fogueiras, não devemos esquecer, os tachos  e copos cobertos de fuligem que sujavam tudo o que tinham à sua volta, ou os dias húmidos e frios em que todas as fontes de combustível estavam molhadas e inutilizáveis. É também fácil esquecer as caras e as mãos, as roupas e os sacos enegrecidos, para além do facto de a comida ficar muitas vezes intragável.  Ora, os modernos e leves fogões de acampamento podem não ser tão românticos como uma fogueira, podem parecer clínicos, frios e muito pouco atractivos esteticamente, mas são, no entanto funcionais e práticos. Pode-se confiar sempre neles, são fáceis de transportar e mais importante ainda, proporcionam fonte de calor até nas condições mais inóspitas que se possa imaginar.



Aliás, desde o ponto de vista ético, um fogão permite-nos reduzir ao mínimo os danos causados ao ecossistema, o que numa natureza que começa a apresentar cada vez maiores sinais de descuido e uso abusivo, é uma grande vantagem.

Quem não sonha com uma comida quente no final de um longo dia de caminhada? Para realizar esse desejo nada melhor do que os fogões actuais, simples “fogões de bolso  que são responsáveis por verdadeiros milagres”. São eficientes, geram muito poder calorífico, e são práticos e pequenos.


Tipos de fogões

Podemos agrupar os fogões segundo o tipo de combustível  que se utiliza em cada um cada um.


1 - Os fogões de Butano – Constam de duas partes, um cartucho para o combustível e o mecanismo do fogão propriamente dito, que é constituído geralmente por uma válvula de controle e os pontos de sujeição dos tachos. A maioria dos fogões de butano funcionam com vapor, o que quer dizer que o combustível, neste caso o butano, se vaporiza no cartucho e o vapor assim produzido, solta-se no fogão e penetra no queimador , onde se pode acender controladamente. Os exemplos mais conhecidos são o “Camping Gaz Bluet” e o “Globetrotter”, ambos fabricados na França e distribuídos por todo o mundo.



Existe outro tipo de fogão de butano no mercado, que funciona com líquido e de cuja e futura popularidade não podemos duvidar. Neste tipo de fogões, o combustível entra no fogão em forma de líquido, geralmente por intermédio de um pavio incorporado no cartucho, vaporizando-se aí. Para ver as qualidades que este modelo acarreta, é preciso examinar o comportamento do gás butano sob baixas temperaturas.

O butano é um gás ou vapor que sofre uma liquefação e é armazenado a pressões extremas num recipiente hermético. Se não se armazenasse sob pressão, o butano ferveria ou evaporar-se-ia imediatamente, sendo o que sucede quando se abre a válvula de controle do fogão: o butano líquido vaporiza e é libertado no interior do queimador, onde se pode acender. Mas a pressão do butano vaporizado depende muito da temperatura, e quanto mais elevada seja esta, maior será a pressão do vapor. No ponto de congelação a sua pressão será muito baixa (quase igual à do ar que rodeia o fogão) se estivermos ao nível do mar ou relativamente próximo desse nível, e portanto nestas condições, o vapor permanecerá no interior do cartucho. Se as temperaturas forem ainda mais baixas, a pressão do butano diminui ainda mais e além de não saír do cartucho, ainda poderá inclusive, absorver ar. Isto pode ser comprovado, deixando um fogão de butano no congelador durante uma noite inteira, retirando-o de manhã.  Quando abrirmos a válvula iremos ouvir um assobio, produzido pelo ar absorvido para o interior do cartucho, e de seguida não se passará nada, até que o cartucho atinja a temperatura ambiente.

Existe quem defenda que estes fogões não servem para serem usados por montanheiros experientes e profissionais, pelo facto de serem apenas muito práticos para fazer uma incursão, ou para serem usados com bom tempo em zonas baixas, mas não terem grande utilidade no inverno. No entanto existem montanheiros que afirmam ter usado este tipo de fogões e que os mesmos funcionaram com tempo frio a mais de 6.000 metros de altitude.



Todavia existe uma explicação para este fenómeno aparente.  A maiores altitudes, a pressão do ar em volta do fogão é muito menor do que ao nível do mar. A 3.000 metros, por exemplo, a pressão normal do ar é de 3,1 kg/cm2, pelo que um cartucho à temperatura de congelação será ainda capaz de libertar vapor, e acenderá facilmente a 6.000 metros, porque os problemas de libertação de vapor não aparecem até que se alcancem temperaturas de -18º C, as quais já são muito baixas.

Mas voltemos às vantagens dos fogões que se alimentam por líquido. Ora ainda que os fogões de vapor possam funcionar de modo satisfatório a grandes altitudes, podem apresentar problemas em altitudes mais baixas, se o tempo estiver  frio. Isto deve-se a que o combustível simplesmente sai  para fora, porque as baixas temperaturas não o bloqueiam. Acresce ainda  que  estes fogões dependem menos da temperatura, pelo facto de a transformação em vapor, se verificar no mesmo corpo do fogão, o qual aquece rapidamente graças ao calor gerado pelo queimador.

Em geral, os fogões de butano oferecem mais vantagens que os demais, especialmente para principiantes e excursionistas ocasionais. Com eles, o controlo dos cozinhados com fogo lento é óptimo, sendo estes fogões fáceis e rápidos de acender, além de que não exigem nenhuma operação especial com o combustível, e, em principio são mais baratos que os outros.
Obviamente o facto de não funcionarem bem com o frio, constitui uma grande desvantagem em relação aos fogões de gás. O problema pode-se resolver em parte, aquecendo fisicamente o cartucho com o calor do nosso corpo, envolvendo o cartucho com as nossas mãos, ou colocando-o no saco cama antes de ser utilizado. Isto pode ser um pouco incómodo, mas ajuda.



Se for usado num acampamento de verão, o problema estará resolvido logo à partida.

Os cartuchos de “Camping Gaz” são completamente herméticos até ao momento que são perfurados pelo fogão, quando se acoplam. Mas um cartucho vazio pode simplesmente ter pouco combustível, ou, pior ainda, pode nem funcionar devido ao problema das baixas temperaturas. Podemos tomar como exemplo um excursionista sem experiência a manusear um cartucho que aparenta estar vazio. Observemos enquanto o tira envolto por uma nuvem de butano explosivo, e esperemos que não exista outro fogão ligado, ou uma vela, um cigarro, etc nas proximidades, para que não aconteça um acidente explosivo. É fundamental ler com atenção as instruções que vêm com qualquer fogão e prevenir para que quando se mude o respectivo cartucho, não exista por perto nenhuma outra fonte de calor.

Os cartuchos que se podem voltar a fechar, também têm os seus problemas. Por vezes aparecem alguns cartuchos que não se fecham quando se retiram do fogão, e deixam escapar o butano. Se isto acontecer, o melhor será encaixa-lo novamente no fogão, o mais rapidamente possível e deixá-lo lá até que termine de esvaziar. Estes esclarecimentos deveriam dissipar a crença de que os fogões de gás são “mais seguros” que os de petróleo. Os fogões de gás não são fabricados à prova de loucos, porque não estão projectados para serem usados por qualquer um deles.



2 - Os fogões de propano

Estes fogões têm sido muito utilizados nas excursões familiares ao longo dos anos, mas apenas recentemente foram colocados ao alcance do montanheiro. Alguns fabricantes começaram a desenvolver cartuchos que se podem voltar a fechar, com uma mistura de propano e butano, e, segundo algumas opiniões, isto soluciona o problema  do seu funcionamento perante baixas temperaturas.




O propano vaporiza-se abaixo dos -45º C, mas deve-se manter a uma pressão de aproximadamente 31,5 kg/cm2, pelo que deve estar contido num cilindro de aço, bastante mais pesado. Esse facto limita o seu uso por parte dos montanheiros. A mistura, tal como a usam alguns fabricantes, vaporiza-se muito melhor que o butano puro, e ainda que necessite de recipientes de aço pesados, parece em princípio bastante promissor.

3 - Os fogões de gasolina

Os fogões de gás e de gasolina são muito parecidos, em ambos, os respectivos combustíveis devem -se transformar em vapor antes de arder eficazmente. No caso da gasolina esta sobe por uma mecha, ou, por vezes, é forçada por pressão, para o interior de um tubo, onde o calor do queimador a converte em vapor. De seguida, esta dirige-se para o queimador, mistura-se com o ar e arde. O tanque de combustível, o tubo vaporizador e o queimador , são os três elementos mais importantes destes fogões.


O calor produzido por estes fogões, varia um pouco, mas quase sempre é de um nível medio a alto. A maior produção de calor corresponde aos que têm tanques a pressão por intermédio de uma bomba, o que os torna independentes da temperatura externa. Preparar um fogão de bomba pode ter as suas dificuldades e requer uma certa prática. A maioria dos montanheiros, criam pressão no interior do fogão e de seguida abrem a válvula de controle para permitir que passe uma certa quantidade de combustível através do tubo vaporizador e até à cartilha. No entanto com este sistema é provável que saia demasiado combustível, o que provoca uma labareda indesejada.


 Convém neste momento dizer algumas palavras sobre o combustível. O ideal seria usar gasolina sem aditivos, muitas vezes chamada de gasolina sem chumbo. Em sua substituição pode-se usar o combustível “Coleman”, que é muito parecido e que pode encontrar-se em imensas lojas. A maioria dos montanheiros utiliza gasolina normal, ainda que o chumbo que esta contém possa chegar a bloquear sistemas muito sensíveis em pouco tempo.



Provavelmente, o fogão de gasolina mais popular será o “Svea 123” da Optimus, tendo ganhado uma justa reputação de fogão de muita resistência e bons resultados. Se podemos apontar-lhe alguma falha, será o facto de ser instável. Este fogão cria a pressão interior necessária por si mesmo e possui uma agulha limpadora integrada no seu interior, o que por si só já é uma grande vantagem. O “Optimus 8R” e o “Optimus 99”, são também muito populares, e com justo mérito, sendo actualmente considerados quase clássicos. Estes dois fogões são basicamente “Sveas” cujos componentes foram reordenados e encaixados numas pequenas caixas de bronze. O rendimento destes três fogões é similar, e podem-se situar num nível médio de qualidade. Todos eles ardem de forma satisfatória, e quando funcionam em pleno rendimento, praticamente não são afectados pelas temperaturas externas. De qualquer forma convém advertir que quando estiver tempo frio será aconselhável isolar o fundo do fogão do solo com uma almofada de espuma de células fechadas, ou uma outra base isolante, porque caso contrário, o rendimento começará a diminuir progressivamente.



O fogão “Coleman Peak 1” está a ganhar rapidamente uma grande reputação, principalmente  para os montanheiros que acampam no inverno, devido ao seu alto rendimento. Este fogão é compacto, bastante mais leve (0,9 kg) e tem uma tela integral, um suporte para os tachos, um limpador incorporado e um grande queimador.


O fogão mais caro e menos selecionado na hora de usar combustíveis é o “MSR GK” da Mountain Safety  Research dos Estados Unidos, lançado no mercado em meados dos anos 80. Este fogão funciona com gasolina, petróleo, gasóleo, combustível de aviação , benzina, e dizem que até com óleo de amendoim. Além disso, arde muito bem e é perfeito para derreter baldes de neve e gelo. Os principais combustíveis utilizados neste tipo de fogão, são a benzina, que fornece uma chama forte e limpa, e o querosene, que pode ser encontrado em qualquer lugar, mas possui um cheiro desagradável e uma certa oleosidade que incomoda a maioria dos montanheiros.
Mas desgraçadamente, este tipo de fogão, não permite um bom controle dos cozinhados a fogo brando, existindo ainda um atraso de seis segundos entre o momento em que se gira a válvula e o momento em que a chama se veja afectada por esse movimento, o que não constitui nenhuma ajuda para o “Chef cordon-bleu…”. O “MSR” é outro fogão todo o terreno, incluído na categoria dos que produzem bastante calor, sendo ideal para o inverno.



Tem no entanto algumas desvantagens, como o facto de, se por acaso se apagar, ser necessário retirar a panela para o voltar a acender. Como já foi dito, nele não se controlam bem os cozinhados a fogo lento ou brando, e, ainda tem um acendedor integral para o acender uma primeira vez, sendo depois necessário usar acendalhas, pois o acendedor  apenas faz arder a gasolina, o petróleo, o óleo de amendoim, etc, no cevador e não no queimador.


4 - Os fogões de Petróleo

Os fogões de petróleo ou querosene funcionam de forma similar aos de gasolina, sendo o combustível, no entanto, menos  volátil e mais fácil de manejar. O petróleo é uma excelente alternativa à gasolina, ainda que seja mais sujo, pois tem um toque oleoso e demora muito a evaporar-se quando se derrama, além de ter um cheiro muito intenso. Tem como vantagens, a sua fácil obtenção em qualquer parte do globo, embora em diferentes graus, e o seu baixo preço também constitui uma vantagem importante.


Um exemplo de fogão de petróleo é o “Optimus 00”, que sempre gozou de grande popularidade.


5 - Os fogões de álcool metilico (ou desnaturado)

Um dos fogões mais populares no mercado é o “Trangia” de álcool. É um fogão muito aconselhado para jovens escuteiros, grupos de jovens principiantes e famílias de excursionistas, pois é muito seguro e muito fácil de manejar, e provavelmente o mais estável que abordamos até agora. O álcool não necessita ser cevado, nem de grande pressão, pelo que se torna muito simples de manejar. Tanto o modelo “Trangia” como o “Optimus Trapper” estão desenhados de forma a que o seu rendimento aumente quando exista vento e ambos funcionam muito bem em situações onde não exista qualquer tipo de protecção. Por desgraça, o álcool metílico pesa muito e é caro, e além disso nenhum destes modelos tem um bom controle para cozinhar a lume brando.


Seguidamente e de forma a ajudar a compreender melhor, vamos fazer uma breve abordagem ao equipamento para cozinhar e aos fogões aqui abordados.




a) O fogão “Coleman Peak 1” produz muito calor para o tamanho que tem. Funciona com gasolina (normal)  sem aditivos ou com um combustível especial produzido pela Coleman, que também pode ser usado noutros fogões que funcionem a gasolina.




b) O típico fogão de montanheiros, o “Svea”, é conhecido em todo o mundo. Utiliza gasolina normal, tem sistema de autolimpeza e não necessita de pressão. A tampa de alumínio pode-se usar também como  tacho.





c) “Optimus Triple Fuel 199 Ranger” - Como o seu nome indica, utiliza três combustíveis, gasolina normal, petróleo (querosene), e álcool metílico. Tem uma chama muito potente. A sua pequena bomba cria a pressão necessária no fogão, pelo que se pode acender facilmente. A tampa de alumínio pode-se usar como tacho.




d) O “Optimus 8R” é um fogão também muito popular entre os montanheiros. Queima gasolina, tendo um sistema de autolimpeza quando se usa gasolina sem aditivos (normal). Se for usada gasolina Super, deve-se limpar o fogão com regularidade.





e) O “Bleuet S 200” é um fogão de butano, limpo, prático e que funciona bem. É um pouco instável, mesmo com o pequeno pé de apoio com o qual se costuma vender.




f) O fogão “Trangia”, que utiliza álcool metílico. O corte na ilustração acima mostra a chaleira sobre o queimador. Os furos nos lados do queimador estão dirigidos para o vento dominante proporcionando uma ventilação controlada ao queimador. Para mudar o nível do fogo, gira-se o fogão completo de forma que os furos não se dirijam para o vento, com o que se consegue um certo controle para cozinhar a fogo lento, ainda que não seja muito preciso. O desenho inferior mostra um método alternativo de cozinhar, cobrindo o tacho com uma frigideira invertida, para assim obter maior quantidade de calor.




O equipamento da “Trangia” para cozinhar constitui uma unidade de fácil manejo, tendo vários tachos, uma chaleira, uma pega, uma frigideira e uma tampa.




g) Um fogão desenvolvido pela Primus, com um sistema automático de ignição, muito útil para quando existe vento. No pequeno tanque de combustível cabe uma pequena quantidade de propano ou butano, suficiente para usar o fogão durante trinta minutos.

h)  O fogão “MSR” multicombustível é excelente para derreter neve, pois proporciona muito calor, apesar do seu tamanho. Segundo alguns montanheiros, os tubos que unem a garrafa de combustível e o fogão, são no entanto incómodos e instáveis.

i)  Um equipamento de cozinha que inclui, de cima para baixo, uma tampa que serve como frigideira, dois tachos de tamanho médio, uma tela para o vento, um fogão “Svea” e uma base para o fogão. Tudo isto tem um peso total de 1 kg.




A escorva ou pré-aquecimento do queimador  –  Esta é a fase mais perigosa no uso dos fogões de gasolina. Deve-se aquecer o tubo vaporizador antes de acender o fogão, para isso verte-se uma pequena quantidade de combustível dentro do funil que aparece no final do tubo vaporizador e pega-se fogo. É conveniente usar um combustível em forma de massa, como se vê na fotografia. Quando a massa deixar de arder, o tubo está quente, o combustível vaporiza-se e pode-se acender o fogão sem provocar uma grande labareda de fogo, que é o que ocorre quando o combustível alcança o queimador, sem antes se ter vaporizado. È preciso ter muito cuidado com a escorva. É preferível usar uma massa e não o combustível líquido, mas se não tivermos massa, deve-se utilizar a menor quantidade de combustível possível, sem fazer estourar o funil, realizando toda a operação com calma. Uma vez vaporizado o combustível, este passa para o queimador através da válvula de controle. A maioria dos fogões de gasolina tem queimadores de chapa que rapidamente ficam com uma cor vermelho vivo.



Cortavento – Quando existe grande quantidade de correntes de ar e rajadas de vento em volta da tenda, é fundamental usar algo para proteger o fogão do vento. Inclusivé quando se cozinha no avançado da tenda, existirá sempre uma pequena corrente de ar entre as duas camadas da tenda (interna e impermeável). Por vezes é suficiente uma bota bem colocada, para evitar que uma pequena corrente de ar afecte a chama. No entanto, as telas cortavento são leves, funcionais e não ocupam muito espaço. Um pedaço, mais ou menos grande de papel de alumínio, preso com alguns espeques sobrantes da tenda será suficiente para funcionar como cortavento. De qualquer forma, é preciso ter cuidado e confirmar que quando se improvise uma tela, continue a existir ventilação suficiente à volta do tanque do combustível, pois estes, criam eles mesmos a pressão necessária e precisam estar quentes para funcionar, sem contudo queimar ao tacto.


De seguida apresentamos um quadro, onde se mostra a comparação entre os combustíveis:





Poderíamos ainda falar sobre os vários outros tipos de fogões que existem no mercado, mas face à vasta oferta que existe, com certeza daria "pano para mangas", pelo que optamos por nos cingir ao aqui apresentado.





Curiosidades sobre os combustíveis, numa  vertente notoriamente mais técnica:

Petróleo

O querosene, também designado por petróleo iluminante ou óleo de parafina é um líquido resultante da destilação fraccionada do petróleo, com temperatura de ebulição entre 150 e 290 graus celsius, sendo uma fracção entre a gasolina e o óleo diesel.
É uma combinação complexa de hidrocarbonetos (alifáticos, nafténicos e aromáticos) com um número de carbonos na sua maioria dentro do intervalo de C9 a C16, produzida por destilação do petróleo bruto, com faixa de destilação compreendida entre 15ºC e 239ºC. O produto possui diversas características específicas como seja uma ampla curva de destilação, conferindo-lhe um excelente poder de solvência e uma taxa de evaporação lenta, além de um ponto de inflamação que oferece relativa segurança ao manuseamento. É insolúvel em água. Historicamente, o querosene foi o primeiro derivado do petróleo com valor comercial, substituindo o azeite, e o óleo de baleia na iluminação. Os usos mais comuns do querosene são, a iluminação, o uso em solventes e QAV (querosene para aviação). Pesquisas em andamento têm vindo a desenvolver um combustível alternativo, derivado da biomassa, denominado bioquerosene. 


Álcool metílico

O metanol, também conhecido com álcool metílico, é um composto químico com a fórmula química CH3OH. É um líquido inflamável, possui chama invisivel, fundindo-se a cerca de -98ºC.
O metanol, ou ainda, o álcool da madeira, pode ser preparado pela destilação seca de madeiras, sendo este o seu processo mais antigo de obtenção, e a partir do qual, durante muito tempo, foi obtido exclusivamente. Actualmente é obtido pela reacção do gás de síntese (produzido a partir de origens fósseis, como o gás natural), uma mistura de H2 com CO passando por um catalisador metalico a altas temperaturas e pressões.
Esta reacção é uma redução catalítica do Monóxido de Carbono, e processa-se a temperatura de cerca de 300ºC e pressões de 200 a 300 atm. É utilizado como catalisador, uma mistura de óxidos metálicos comoóxido de cromo (Cr2O3) e óxido de zinco (ZnO). O metanol também pode ser produzido a partir da cana do açucar. O metanol é principalmente um solvente industrial, pois dissolve alguns sais, e fá-lo melhor do que o Etanol; é utilizado na indústria de plásticos, na extracção de produtos animais e vegetais, e como solvente em reacções de importància farmacológica, bem como na preparação de colesterol, vitaminas e hormonas. É uma matéria prima na produção de formaldeído.
É usado no processo de transesterificação da gordura, para produzir biodiesel.
É também usado como combustível em algumas categorias de monopostos dos EUA (ex. Champ Car, IRL, Dragster). As equipas e os pilotos são treinados de forma a saber como agir perante um incêndio provocado por um acidente. Como o fogo resultante da sua combustão não é visível, é necessário lançar água em todos os cantos onde supostamente ele poderá estar a ocorrer, bem como no próprio piloto e membros da equipa se fornecessário.


O Butano

O butano é um derivado do petróleo. É um gás incolor, inodoro e altamente inflamável.
É um hidrocarboneto gasoso, obtido através do aquecimento lento do petróleo.
O butano está presente no nosso gás de cozinha, ou gás liquefeito de petróleo (GLP), onde é encontrado misturado com outros gases, maioritariamente pelo propano. Actualmente o GLP é fornecido via tubulação e em botijas.
A sua fórmula é C4H10, é um hidrocarboneto com carbonos primários e secundários de ligação sp3, de cadeia aberta (acíclica ou alifática).
O termo butano é também usado como um colectivo do n-butano juntamente com o seu único isómero isobutano, (também chamado metilpropano), CH(CH3)3.
A respectiva molécula é apolar (por ser um hidrocarboneto), não sendo, portanto, solúvel em água. Outras misturas de hidrocarbonetos obtidas a partir do petróleo, como a gasolina, o querose ou o diesel, são igualmente homogéneas e insolúveis em água. As ligações intermoleculares do butano - como todos os outros hidrocarbonetos apolares - são feitas pelas denominadas forças de Van Der Waals, por dipolos temporários, que são as mais fracas das ligações intermoleculares. Por isso as temperaturas de fusão e ebulição são menores que as de outros componentes.
O butano (gás de cozinha), é inodoro, por isso, por convenção e para que possamos perceber a diferença com outro tipo de gás, é-lhe adicionada uma substância de cheiro específico, do qual resulta aquilo a que as pessoas atribuem o famoso "cheiro de gás".
Este gás produz asfixia em virtude de expulsar o oxigénio do meio ambiente.
Uma característica interessante do butano é o facto de ao contrário da maioria dos gases, a sua densidade corresponder aproximadamente ao dobro da densidade do ar atmosférico. Por esse motivo, o butano tende a expulsar o ar depositado no fundo de ranhuras onde não se pode chegar.
O butano foi usado como combustível para os motores dos dirigíveis fabricados pela empresa Zeppelin, na Grande Guerra.


O Propano

Um alcano de três carbonos, propano é algumas vezes derivado de outros produtos do petróleo, e é obtido durante o processamento de óleo ou gás natural.
Quando comburente é vendido como combustível, também é chamado de gás liquefeito de petróleo (GLP), que é uma mistura de propano com pequenas quantidades de propileno, butano e butileno, mais etanotiol como odorizante para impedir que o normalmente inodoro propano deixe de ser identificado quando existem fugas. É usado como combustível para fogões e em motores de automóveis.
Tem também uso como propulsor para sprays aerossóis, especialmente após o desaparecimento dos CFCs. Utilizado na mistura denominada MGR (mixed gaz refrigerant), que é fundamental para liquefação do gás natural (GNL) em processos industriais, onde a refrigeração necessária é obtida por uma válvula Joule-Thomson.


Gasolina

A gasolina é um combustível constituido basicamente por hidrocarbonetos e, em menor quantidade, por produtos oxigenados. Esses hidrcarbometos são, geralmente, mais "leves" do que aqueles que compõem o óleo diesel, pois são formados por moléculas de menor cadeia carbónica (normalmente de 4 a 12 átomos de carbono). Além dos hidrocarbonetos e dos oxigenados, a gasolina também pode conter compostos de enxofre e compostos de nitrogénio. A faixa de destilação da gasolina também pode conter compostos de enxofre e compostos de nitrogénio. A faixa de destilação da gasolina automotiva varia de 30 a 220ºC.
A gasolina básica (sem oxigenados) possui uma composição complexa. A sua formulação pode obrigar à utilização de diversas correntes nobres oriundas do processamento do petróleo como naftaDD (produto obtido a partir da destilação directa do petróleo), naftacraqueada que é obtida a partir da quebra de moléculas de hidrocarbonetos mais pesados (gasóleos), nafta reformada (obtida de um processo que aumenta a quantidade de substâncias aromáticas) e naftade coque, obtida através do processo de coqueamento, nafta alquilada ( de um processo que produz isoparafinas de alta octanagem a partir de isso-butanos e olefinas), etc. Quanto maior for a octanagem (número de moléculas com octanos) da gasolina maior será a sua resistência à detonação espontânea.
A gasolina aditivada, disponível em alguns postos de combustível, é uma gasolina comum acrescentada de aditivos detergentes-dispersantes. Esses aditivos têm como finalidade a limpeza do sistema de alimentação de combustível, incluindo a linha de combustível, bomba, galeria de combustível, injectores e válvulas de admissão.
O seu uso permite que o motor opere nas condições especificadas pelo fabricante por mais tempo, o que reduz o consumo e as emissões aumentando o intervalo entre manutenções. Ao contrário do que se pensa, a gasolina aditivada não aumenta a octanagem do combustível. As gasolinas de alta octanagem são chamadas, genéricamente, de "gasolinas premium".

A Benzina

A benzina (também chamada éter de petróleo) é um líquido obtido na destilação fraccionada do petróleo entre 35-90ºC, constituído por hidrocarbonetos, geralmente alifáticos, de baixo peso molecular (pentano, heptano). A fracção de alto ponto de ebulição denomina-se "ligroína". A benzina emprega-se como solvente e como extractante. Possui um carácter tóxico quando inalado, podendo causar cancro subcutâneo. Se ingerido, alcançando os alvéolos pulmonares, a morte pode ocorrer.
Ou seja, a benzina deve ser evitada para fins recreativos.
Ao ser inalado pode produzir efeitos alucinogénios provocando desequilibrio, dilatação das pupilas e convulsões auditivas. Na Segunda Guerra Mundial, em alguns campos de concentração, exterminaram-se pessoas recorrendo a injecções de benzina.




Como verificamos, o tipo de gás e o tipo de fogão dependem da actividade que pretendemos empreender, pelo que fica ao critério e ao cuidado da "carteira" de cada um fazer a opção mais correcta. Pensamos  ter esclarecido algumas dúvidas que poderiam existir sobre este tema, e… nunca se esqueçam de ver as instruções de segurança dos fogões e tenham sempre muito cuidado ao manuseá-los.

Boas caminhadas... sempre a dar gás!

22 junho 2012

Congestionamento no Everest aumenta em 2012 deixando mortos






 02/06/2012

Quando um leigo pensa na montanha mais alta do mundo, acha que lá é um local selvagem e pouco frequentado. 59 anos depois da sua conquista, mais de 600 pessoas conseguiram pisar o cume do Everest na mesma temporada. O problema deste número é que estas pessoas desejam fazer cume a qualquer preço e para isso precisam aproveitar curtas janelas de tempo, sobrecarregando as rotas mais fácei até ao topo.



Na última quinta-feira o “AltaMontanha.com” recebeu um relato em primeira mão sobre as tragédias do dia 19 e 20 de maio no lado sul do Everest. Ao que parece a conhecida cena de alpinistas sedentos pelo cume, ignorando alpinistas moribundos, deixados ao lado na rota de ascenso, repetiu-se. Novamente pouco foi feito pelos que estavam perto da morte e pelo menos 2 alpinistas faleceram.


No dia 24 de maio, dia que antecedeu o principal ataque ao cume do Everest, pelo menos 300 pessoas se espremiam na longa fila de gente que levava ao colo sul.

Ao ver a imensa fila, o alemão Ralf Dujmovits (que é dono da empresa de expedições comerciais Amical) teve um sentimento de que algumas pessoas não voltariam vivas dali. Ele tirou uma foto que mostra bem o tamanho da fila que centenas de alpinistas enfrentaram no caminho ao cume.



O estranho "congestionamento" no Everest começou a aparecer nos últimos anos e gera uma série de problemas para os alpinistas. Estima-se que a causa é atrelada à inexperiência e a quantidade cada vez mais crescente de pessoas que são autorizadas a escalar a montanha. 

Filas como essa do Everest podem ser presenciadas em montanhas menores como o Mont Blanc de 4800 metros de altitude na França. Nesta mais de 1000 turistas chegam a visitar a montanha no mesmo dia. 

Segundo o montanhista Maximo Kausch, que está agora em Kathmandu e acabou de liderar uma expedição a uma montanha vizinha ao Everest, "Cada cliente paga em média 40 mil dólares para estar ali e o governo nepalês não está interessado em limitar essas pessoas de subir a montanha. Fora isso esta monção foi bem marcada e a janela do dia 25 foi bem curta, o que obrigou toda a gente a espremer-se nesse dia mesmo"

Deixados para trás

No último dia 20 de maio alguns alpinistas tentaram o cume do Everest. Este foi um dia extremamente frio e com muito vento. Mas o que marcou mesmo as mentes dos que tentaram o cume no dia 20 foram as vítimas do dia 19.

Fila de alpinistas na banda de rocha – Simone Moro

Maximo afirma que "O dia 19 foi muito frio e a janela no vento foi de algumas horas. Os que usaram o dia 19 tinham que ser rápidos. No entanto não foi isso que aconteceu e acho que 4 pessoas ainda estavam vivas tentando voltar para o acampamento, 4 no colo sul, quando as pessoas do dia 20 começaram a escalada. Eles encontraram os 4 vivos ou morrendo. Sei de 4 expedições que não fizeram nada. Só sei de uma pessoa que parou para ajudar esses quatro. Acho que era um coreano, um polonês e 2 chineses" afirma o guia.

Até hoje 233 pessoas perderam a vida no Everest.




Extraído de  http://altamontanha.com

20 junho 2012

Sem tenda de campanha na montanha - O Bivaque


Muitos montanheiros libertam-se de muito peso, deixando a tenda em casa. Essa poderá ser uma boa ideia quando nos deslocamos em zonas onde existam refúgios de montanha, cabanas, albergues, cavernas ou outros refúgios naturais.


Mas convém ter presente que a cabana para onde nos dirigimos pode estar cheia de gente que também se lembrou dela, pelo que a solidão e tranquilidade que procurávamos e desejávamos desfrutar, poderá estar cheia de risos, canções e até discussões que perdurarão, provavelmente, até altas horas da noite.


Os montanheiros até podem suportar isso, no entanto este tipo de atmosfera poderá ser encontrado num bar qualquer do nosso bairro, não sendo necessário ir para a montanha para encontrar tal ambiente. Num refúgio ou num albergue não podemos eleger a companhia, e além disso as pousadas e albergues sujeitam-nos a horários e determinadas regras. Teremos que nos cingir a distâncias previamente fixadas para cada dia, porque teremos que estar na pousada ou no albergue até à hora de abertura e voltar correndo para chegar antes que fiquem cheios. Desta forma estamo-nos a privar da liberdade e mobilidade que nos oferece a tenda de campanha.



O melhor do montanhismo é podermos acampar quando estamos cansados ou onde a paisagem for mais agradável, representando esta escolha a verdadeira liberdade. Existe uma alternativa a dormir numa tenda, que é fazer um bivaque. Pode-se improvisar um refúgio simples, mas eficaz, somente com  um saco de plástico grande ou com uma lona impermeabilizada. Nestes refúgios não ficamos tão protegidos da água como numa tenda de campanha, mas este será um pormenor sem importância se considerarmos a diferença de preços (as lonas impermeabilizadas costumam custar a décima parte do preço de uma tenda barata). Utilizar coberturas de bivaque em Gore-Tex será outra alternativa para prescindir da tenda. Ainda que sejam dispendiosas, a sua aceitação tem sido cada vez maior entre os montanheiros  que pretendem aliviar peso na mochila e pretendem dormir ao ar livre. Os sacos de bivaque com aros são na realidade pequenas tendas, funcionais, embora com pouco conforto.



(Se vamos dormir ao ar livre, não nos podemos esquecer de montar um refúgio. Uma simples lona de nylon, sem furos, pode-se colocar de qualquer uma das formas que se mostram nas ilustrações acima. As árvores são os melhores pontos de ancoragem, no entanto também serve um bastão forte. Ao colocar a lona, convém recordar que a entrada do abrigo não deve ficar voltada contra o vento.)


(Na imagem acima vemos um saco de bivaque de Gore-Tex com aros. Como o espaço interior tem pouca altura, o vapor de água que exista dentro do saco, vê-se forçado a saír pelos poros do PTFE, por acção do calor do corpo, desaparecendo por convecção. Estes sacos costumam pesar cerca de 700 gramas, sendo portanto ideais para o montanheiro que pretenda reduzir o peso ao mínimo, evitando ficar sem refúgio impermeável para a noite. Não se pode falar de conforto, pois apenas é possível ficar deitado nesta classe de refúgio.)

(Se pretendemos viajar com pouco peso, será conveniente levar tendas como a da imagem acima, com armação de arcos e um equipamento leve e bem compactado.)


Noites ao ar livre

Existem montanheiros e escaladores muito destemidos que sentem calafrios só de pensar em passar uma noite ao ar livre sem as comodidades materiais de um hotel ou duma pensão, ou pelo menos com as quatro paredes de um simples refúgio de montanha, entre eles e os elementos naturais. Esta é a reacção natural das pessoas - ditas -normais, sociais e domésticas. O montanhismo oferece-nos a possibilidade de quebrar estas restrições sociais, proporcionando uma mudança da rotineira vida diária.  “Identificar-se com a natureza” é uma frase banal e gasta,  que dá a impressão que quem  a diz é um excêntrico. Contudo se dormirmos debaixo de um céu estrelado, sem outra protecção que não seja o fino saco de bivaque a separar-nos entre nós próprios e o mundo exterior, enquanto escutamos os grunhidos abafados de uns veados, quando vemos um esquilo nervoso e curioso que se aproxima do nosso corpo inerte, ou, ainda, quando escutamos o barulho do vento nas árvores que nos rodeiam, jamais como então nos teremos sentido tão próximos da natureza.


Claro que nem toda a gente pensa da mesma forma. Muitas pessoas têm imensa dificuldade em relaxar  se estiverem ao ar livre. Para além da acolhedora luz das suas velas cintilantes ou lanternas, encontra-se um mundo escuro e hostil e sentem uma ameaça que engloba tudo a começar pelas sombras.


O som de qualquer rocegar na vegetação, ou de grunhidos, pode-se ampliar até alcançar proporções alarmantes e o som da água a fluir no ribeiro pode dar a impressão de vozes distantes a murmurar. É preciso ter coragem para ficar dentro das paredes de lona de uma tenda frágil, ouvindo o vento a gemer e rugir sobre a colina próxima, aguardando que nos sacuda com uma força estremecedora.

Mas a experiência é uma grande professora. Quando sabemos que a nossa pequena tenda está firmemente montada e protegida, e que não será arrancada pelo vento, quando sabemos que os esquilos, os guaxinins e os ouriços cacheiros são incapazes de nos fazer mal, quando tristemente tivermos consciência que a simples presença do homem origina medo e alarme em quase todas as criaturas, será nessa altura que saberemos que não existe nada com que nos preocuparmos. O medo do desconhecido é o mais receoso de todos os nossos temores e esse medo pode-se  transformar  rapidamente em amor. O amor à solidão, o amor aos espaços abertos e naturais, o amor ao cheiro da resina dos pinheiros, do café acabado de fazer e da terra húmida e o aroma do novo dia que começa na natureza.
Contudo , a maioria das recordações mais felizes das viagens, são os sítios onde acampamos. As etapas de caminhada das viagens também serão recordadas, mas não passam simplesmente de meios para alcançar um fim, que será passar a noite no exterior, seja debaixo das estrelas ou dentro de uma tenda.


Em muitas ocasiões também se efectuam percursos de apenas um dia. Quando se vive perto das montanhas, pode-se partir a qualquer momento,  passar um dia no cume das montanhas e regressar a casa para jantar, mas sempre falta algo em dias destes, fica sempre um sentimento de nostalgia quando nos afastamos destes maravilhosos sítios enquanto a noite vai caindo. È como se algo de nós ficasse para trás. A melhor forma de estar nas montanhas, por senti-las em toda a sua dimensão, passa por procurar um pequeno pedaço de erva plana para a converter na nossa casa durante uma noite. As melhores partes do dia são sempre as horas do início da manhã e aquelas em que cai a escuridão da noite.


Nas viagens de apenas um dia, estes momentos são perdidos. É muito melhor permanecer na natureza e sentir-nos parte desta,  quando a escuridão se estende sobre nós, passar a noite confortavelmente, resguardados no saco de bivaque ou na tenda, a sós com os nossos pensamentos e sonhos, ou até com um bom livro e pela manhã levantar-nos cedo e frescos. É básico e essencial acampar depois de um dia de caminhada. “Onde deixo o meu chapéu está a minha casa”, esta frase talvez sintetize o romantismo do viajante. Um dos prazeres mais elementares do montanhismo é encontrar um local bonito para acampar e passar a noite. Alguém escreveu um dia, que para conhecer uma montanha é preciso dormir nela. Passar o ciclo completo das 24 horas do dia sujeitos à intempérie, dá-nos uma grande confiança em nós próprios e na nossa capacidade de nos identificarmos com o meio ambiente. Se regressamos a casa ao caír da noite, ou abandonamos o local para ir em busca da comodidade de um hotel, sentimo-nos como meros visitantes.


Muitos consideram os montanheiros muito corajosos, uma vez que conseguem resistir a todas as adversidades que acontecem num acampamento em plena natureza, sobretudo quando a aventura dure vários dias. No entanto amigos, a dureza é algo que está ausente de tudo isto. A única coisa que se necessita para poder disfrutar de um acampamento de vários dias, é de um bom equipamento em que se possa confiar e principalmente saber utiliza-lo. Com o passar dos anos, o equipamento converte-se num velho amigo.




O abrigo (Bivaque)

A situação complica-se quando somos apanhados desprevenidos e precisamos improvisar para conseguir um abrigo minimamente confortável para passarmos a noite.

A função primária de um abrigo é proteger o montanheiro dos perigos e riscos, próprios do ambiente de sobrevivência. Um abrigo bem construído também pode fornecer conforto e bem-estar psicológico. Quanto mais dilatada for a duração da situação de sobrevivência, tanto maior será a importância destas considerações.


Um abrigo feito à mão, pode ir de um rápido e simples alpendre a uma cabana de troncos completamente calafetada. A sofisticação do abrigo que resolvermos fazer depende de vários factores.

As ferramentas à nossa disposição e a circunstância de o abrigo ser temporário ou semipermanente, são factores fundamentais para a nossa decisão. Mesmo que tenhamos previsto uma permanência dilatada, os nossos esforços têm de, necessariamente, limitar-se à construção de um abrigo simples, se, pelo menos não dispusermos, no mínimo, de uma navalha e de um machado. Outras considerações mais significativas são o tempo disponível para trabalhar a madeira e os conhecimentos da arte de o fazer. Contudo de qualquer modo poderá ser construído um abrigo bastante adequado com poucas ou nenhumas ferramentas e um conhecimento limitado das técnicas de trabalhar a madeira. O importante para construir um abrigo eficaz e habitável é improvisar. A improvisação, combinada com a criatividade e os conhecimentos básicos do trabalho com madeira, pode produzir um abrigo robusto e confortável.

Escolha do local

Devemos procurar um sitio seco para acampar, num esporão ou ponto alto do terreno, num local aberto bem afastado de pântanos (mas não demasiado afastados da nossa fonte de água doce). Nessas circunstâncias os mosquitos incomodarão menos, o solo estará mais seco e as brisas serão mais prováveis.

Devemos saber, por exemplo, que na selva montanhosa, as noites são frias. Devemos providenciar protecções contra o vento. Devemos evitar os leitos de rios secos. Estes leitos secos podem ser inundados em poucas horas. Essas enxurradas podem ser provocadas por chuvas caídas em locais tão distantes da nossa posição que tampouco nos aperceberemos do perigo que representam.


Alguns tipos de abrigo

Como já aqui se referiu, o tipo de abrigo a construir depende do tempo disponível para o preparar e de se destinar a servir como estrutura permanente ou semi-permanente. Eis alguns abrigos simples:

1- O abrigo de colmo ou em “A” – Construído cobrindo uma estrutura em forma de “A” com uma boa camada espessa de folhas de palmeira ou outras folhas pesadas, bocados de casca de árvore ou leivas de relva. Põe-se o colmo atado a ripas e coloca-se de baixo para cima. Este tipo de abrigo é considerado ideal desde que possa ser concebido completamente à prova de água.


2- O alpendre – Ou abrigo-padrão. Quando usar um abrigo do tipo alpendre, é, porém, importante que esteja estrategicamente localizado num local onde se possa fazer uma fogueira suficientemente grande para espalhar calor de forma uniforme por todo o abrigo. A localização correcta do alpendre e da fogueira em relação aos ventos dominantes é outro factor a considerar. Este abrigo pode ser melhorado com uma fogueira e com a construção de um reflector com toros verdes colocado para lá da fogueira em relação à abertura do alpendre. Grandes pedras espetadas do outro lado da fogueira também reflectem o calor.


3- O abrigo de salgueiros – Este é construido com salgueiros atados formando uma armação que pode ser coberta por tecido. Não há nenhum desenho especial para este tipo de abrigo, mas deve ser suficientemente espaçoso para um ocupante e seu respectivo equipamento. É muito importante colocar a extremidade aberta do abrigo perpendicularmente aos ventos dominantes, bem como vedar a parte inferior da cobertura com terra ou neve para evitar que o vento entre nele.


4- O abrigo de árvore caída – É, como o nome indica, formado pela copa de uma árvore caída. Os abrigos feitos com as copas das árvores caídas não reflectem o calor de uma fogueira e metem água durante uma chuvada, mas os ramos podem servir como um abrigo temporário.


5- O abrigo de tronco – Este é construido colocando dois barrotes de encontro a um tronco de grandes dimensões e cobrindo a estrutura com folhagem. Este abrigo não é conveniente para ser usado como acampamento permanente.



A cavidade natural

Se não tivermos um abrigo connosco, o que seria preferível, teremos que procurar oportunidades de abrigo que a natureza nos oferece e que já tem previstas para nós, seja uma caverna ou uma cavidade natural no solo. No entanto, devemos evitar depressões naturais em áreas de baixa altitude uma vez que podem inundar e se estivermos numa ladeira, temos que tentar manter-nos  bem longe de buracos expostos e propícios para escoamento de águas.

Uma cavidade pode ser demasiado rasa para nos sentarmos dentro dela , mas ainda assim pode servir de abrigo contra o vento, se nos  deitarmos  nela, e se a dotarmos dum telhado básico podemos  ainda mantê-la seca também.

Alguns pontos a ter em consideração para um correcto aproveitamento de uma cavidade:

1 - Se a cavidade não for suficientemente  profunda para nos abrigar da acção do vento , será necessário remover alguma terra  com uma vara, que poderá ser um pau afiado na ponta para soltar a terra que depois será removida.

. Convém analisar com cuidado o solo que não deve ser  húmido, pois  pode ser propenso a inundações.

. Se o terreno for muito difícil de escavar, pode-se colocar pedras ou madeira  para construir os lados aumentando-os, evitando, assim, a necessidade de escavar.

. Deve-se colocar material no chão para fazer uma cama antes de continuar



2 - Com uma serra, ou, na falta dela, com alguma improvisação, corte um bom número de paus resistentes ou galhos que sejam suficientemente compridos para cobrir todo o buraco e  que servirão para criar um teto de apoio. Cortar um tronco mais espesso, que deve ser apoiado em cima dos paus transversais. Com este procedimento irá criar a altura e a inclinação semelhante a um telhado inclinado. Certifique-se que a estrutura não é demasiado pesada.



3 - Coloque ramos mais curtos, paus, ou postes ao longo do topo do tronco e ramos para criar um telhado pontiagudo.

Devem unir-se estes materiais bem juntos e certificar de que estão colocados firmemente na posição



4 - Deixar uma entrada numa extremidade do abrigo com espaço suficiente para entrar e sair sem danificar o telhado.

. Garantir que a entrada não fica de frente para o vento, sendo que um ângulo de 90 graus em relação ao vento dominante será o ideal.

. Isolar o telhado inclinado com folhagem, usando tantas folhas  quanto seja possível.

. Iniciar a camada de isolamento final, trabalhando-se sempre dos lados para a parte superior do telhado para assim criar uma sobreposição de folhas de forma que  a água da chuva escorra para fora do buraco.

. Em condições húmidas colocar um poncho ou um plástico por cima.



Tenda Bivaque pequena

Um saco de bivaque consiste numa capa leve à prova de água usado para cobrir um para saco cama e é feito de um material respirável que reduz a condensação. É um componente essencial  para  campismo e montanhismo  podendo facilmente ser transformada numa tenda pequena para uma única pessoa. A vantagem de fazer uma tenda de saco de bivaque,  é que, em condições de chuva, a água cai pelo lado e não penetra para o interior tão rapidamente como acontece quando o saco fica estendido plano no solo.

Procedimento:

1. Estende-se o saco de bivaque no chão no local escolhido para o montar.

. Se tiver a aba da capa em cima ela vai formar uma "porta" que trava para baixo. No entanto, se a aba está no fundo pode ser amarrado como uma porta.

. Anexar um laço-botão (mais abaixo explicaremos como se faz este tipo de laço) com uma laçada em  cada uma das esquinas  do fundo do saco bivaque.

. Estacam-se os laços com um laço-botão no chão.


2. Atar a um laço-botão, com um longo comprimento de cordél para o centro da abertura do saco bivaque de forma a  segurá-la.

. Puxa-se para baixo os lados direito e esquerdo da entrada e coloca-se um laço-botão com uma laçada, no sítio onde eles se encontram no chão.

. Prende-se os laços-botão  no chão.



3. Coloca-se uma vara curva (ou duas varas cruzadas) sobre o fundo do saco bivaque.

. Prende-se o laço-botão que tem 45 cm, dos pés do saco bivaque  para o aro. para assim o levantar e proporcionar mais espaço para os nossos pés.

. Estaca-se fortemente o cabo a partir do aro.


4. Corta-se um pau com a mesma altura da entrada (também podem ser usados um rebento curvo,  ou varas cruzadas)

. Coloca-se o pau na entrada, passa-se o cabo-botão pelo meio e por cima deste, e estaca-se a corda levemente.

. Reajustam-se todos os pinos para garantir um bom aperto e uma boa tensão.



5 . Quando quisermos entrar na tenda bivaque, basta remover o o pau da abertura e nela introduzir primeiro os pés.

. Com este movimento é necessário certificar que a corda não fique presa a nós.


6. Depois de termos entrado na tenda bivaque, recoloca-se o pau da entrada  sob o cabo longo.

. Usa-se o capuz do saco bivaque como uma porta ao abrir e fechar, se for necessário.



Como se faz  um laço botão

Os laços-botão proporcionam uma fixação simples e segura para segurar ponchos e lonas que não possuem laços ou ilhoses,  tornando fácil e seguro  anexar uma linha ou cordel. Como não tem que se cortar buracos no material, continuará a ser à prova d'água e menos propenso a rasgar.

1. Embrulha-se uma pequena pedra, redonda e lisa (ou similar) no material para formar um "botão". Depois prepara-se a corda, e ata-se com um nó corrediço numa  extremidade.


2. Coloca-se a argola aberta do nó deslizante sobre o pescoço do botão e puxa-se para o  apertar.


3. Na outra extremidade da corda  faz-se  uma laçada simples para prender às cavilhas do seu abrigo



A neve como refúgio

Não há nenhum problema em passar a noite debaixo de uma lona ou de um saco plástico, ou simplesmente debaixo das estrelas, no entanto saír no Inverno para a montanha sem uma tenda de campanha é procurar seguramente complicações. Apesar de tudo, podemos perfeitamente saír sem tenda, quando esteja um tempo invernal, se o fazemos com a deliberada intenção de escavar um buraco ou uma caverna na neve para aí bivacar enquanto estivermos na montanha.

São bem conhecidas as propriedades isolantes da neve. Os cientistas da Universidade do Colorado compararam a capacidade isolante da neve com a do saco cama. Em ambos os casos o agente isolante consiste em milhões de minúsculas bolsas de ar. No saco cama, estas bolsas de ar formam-se entre as partículas das penas e na neve ocorre o mesmo ao amontoarem-se e unirem-se entre si os flocos de neve. Algumas aves pequenas como as perdizes e mamíferos como as lebres azuis, são capazes de sobreviver em invernos de muita neve, protegendo-se do vento ao abrigo de buracos e montes de neve.

Uma camada de neve recente pode conter entre 60 a 90% de ar, dependendo da sua estrutura. Após ter estado algum tempo no solo a forma dos flocos de neve transformam-se, as arestas e as pontas desaparecem e o que eram bonitos flocos convertem-se em massas globulares, mas grande parte do ar original permanece na neve. A neve que caiu há mais tempo não retém tanto ar , mas este está firmemente preso, com o que aumentam as qualidades isolantes da neve.

Se escavarmos um buraco neste tipo de neve sólida, conseguiremos um isolamento parecido com o que obteríamos se nos enfiássemos num saco cama. A temperatura que mantém o ar retido com a temperatura média com que caiu a neve, mas rapidamente o calor do corpo, das velas e dos fogões, originam uma mudança notável da temperatura dentro do covil de neve. Devido à acção destas fontes de calor, a temperatura do ar dentro da caverna de neve começa a elevar-se até ao ponto de congelação. Será conveniente manter a temperatura abaixo de 0º dentro do covil, para evitar que se formem goteiras caso a neve  comece a derreter . Talvez não pareça muito atractivo estar num ambiente a 0º C, mas essa situação será muito melhor do que uma caverna de neve com uma temperatura mais elevada, mas com a neve a escorrer e a gotejar. Se quisermos apreciar o relativo conforto que nos oferece uma temperatura de 0º, podemos experimentar colocar o nariz fora do covil e deixar-nos ser fustigados pelo vento por breves momentos. Ao comparar a brisa e frio do exterior com a temperatura do interior, parecerá que o nosso covil de neve é um apartamento com aquecimento central. Se quisermos fazer um bom trabalho na construção de uma caverna de neve, será útil dispor de uma pá larga, ou melhor ainda, uma serra para a neve. Muito poucos montanheiros levam consigo estas ferramentas, a não ser que vão com a intenção premeditada de construir um covil escavado na neve. Neste caso, estas ferramentas facilitam-nos a tarefa. Os montanheiros utilizam normalmente os piolets, os testos das panelas, os esquis, os bastões, as mãos,  os pés e qualquer outra coisa que possa servir para construir um refúgio de emergência na neve.


Os Iglus

Para construir um autêntico Iglu, é sobretudo necessário muito tempo, bem como a ajuda de uma pá e uma serra para a neve. Uma vez feito, realmente, oferece um refúgio sólido e de estrutura segura, que ficará de pé por muito tempo, inclusive em épocas do degelo. Para construir um Iglu, o requesito principal é que a neve tenha a consistência adequada. É ideal a neve recente, que ainda não teve tempo de se consolidar, se a esmagarmos e deixarmos que fique endurecida, mas é necessário imenso tempo para fazer isto. Podem-se fazer grandes bolas de neve húmida e depois cortá-las em forma de blocos. No entanto qualquer Iglu, mesmo que seja pequeno, precisará de quantidade significativa de bolas de neve, e este é um trabalho duro de realizar. A neve ideal será a que esteja bastante dura ao ponto de nos colocarmos em cima dela e esta resista ao nosso peso sem estarmos com raquetes ou esquis nos pés. A neve deverá ter a mesma consistência em todas as partes do bloco e não apenas na superfície.


Como construir um Iglu

 Escolhe-se um local afastado de qualquer ladeira com risco de avalanche. Para se construir um iglú firme em pouco tempo é precisa muita experiência, uma serra para gelo e uma pá adequada para neve. Ou seja, os iglus não são refúgios de emergência idealizados para, por exemplo, nos proteger de uma tempestade de neve.

1 – Traça-se um circulo em volta do qual se escava uma vala rasa. O tamanho do iglú é decidido em função das pessoas que vão dormir nele. Geralmente, com 3 metros de diâmetro serão suficientes para albergar duas ou três pessoas. Enquanto uma pessoa se dedica a cortar blocos de 40x80x25cm de espessura, as outras duas pessoas podem ir construindo o iglú. Os blocos ganharão consistência e serão mais fáceis de manejar se forem colocados sobre uma das suas bordas, esperando um bocado para que se congelem.


2 – Uma pessoa coloca-se dentro do circulo, para ir colocando os blocos, inclinados para dentro e seguindo a circunferência, em forma de espiral.


3 – Continua-se a colocar blocos até chegar acima, sem esquecer de lhes dar uma certa inclinação para dentro do iglú.

4 – Coloca-se o último bloco, a pedra angular do tecto, com muita suavidade, e abre-se uma porta, do lado protegido do vento para que não fique coberta pela neve.


5 – Pavimenta-se as paredes, cobrindo-as com neve para tapar as fendas.
6 – Por fim, constrói-se um pequeno túnel de entrada e faz-se um par de buracos de ventilação no tecto.  Já dentro do iglú é permitido o lucho de construir plataformas para dormir, ou preparar um espaço para cozinhar, dependendo da nossa vontade.



Viver "dentro" da neve

È fundamental dormir num saco cama que não esteja húmido e com roupas secas. É a única forma de permanecer aquecido toda a noite. Se o saco cama ou a roupa começarem a humedecer, existirão muitas probabilidades  de acabarmos congelados. Logo que entremos no refúgio de neve, é fundamental tirar  toda a roupa que esteja molhada e metê-la num saco de plástico ou na mochila e de seguida devemos enfiar-nos imediatamente no saco cama.

Escavar um refúgio na neve é uma tarefa muito dura que nos faz suar imenso. Antes de começarmos a cavar, devemos tirar  alguma roupa, de forma a ficarmos apenas com o mínimo de roupa necessária para nos proteger, e assim molharmos a menor quantidade possível de roupa com o nosso próprio suor.

É preciso verificar que a cabana ou Iglu fiquem com a ventilação necessária. Se não o fizéssemos poderíamos morrer de anoxia, ou seja, falta de oxigénio. Devemos colocar tudo dentro do refúgio, especialmente os utensílios para cavar. É muito provável que a entrada fique coberta de neve e evidentemente vamos querer saír. Se tivermos que abandonar o refúgio durante algum tempo, será necessário sinaliza-lo bem, para depois o conseguirmos encontrar novamente, e devemos deixar as ferramentas para cavar fora do refúgio. Provavelmente necessitaremos de voltar a abrir a entrada. Convém colocar as botas e a roupa na plataforma onde dormimos podendo-se metê-las na mochila para serem utilizadas como almofada, mas nunca se devem deixar no solo, porque podem ficar coladas com o gelo. Devemos sacudir toda a neve que esteja na roupa quando entrarmos no refugio, tal como se fosse uma tenda. Se não o fizermos, a neve derreterá  ao entrar em contacto com a temperatura interior  do refúgio de neve.  Será necessário prescindir da comida que tenha necessidade de ser fervida durante muito tempo. O vapor de água que sai da panela, produzirá condensação e molhará os sacos cama e a roupa. No covil será ideal usar uma vela em vez de uma lanterna. Com uma só vela podemos iluminar todo o refugio, porque os milhões de cristais de neve vão reflectir a luz, dando assim o aspecto de estarmos na cabana do Pai Natal.

É preciso garantir bastante isolamento entre a neve e o saco cama. Nunca se deve dormir directamente sobre um saco de plástico, porque é bem provável que o saco escorregue e caia da plataforma durante a noite. Se tivermos que sair do refugio durante a noite, deveremos deixar acesa uma luz, que provavelmente, será o único sinal que teremos para nos indicar onde fica o refúgio. Também é aconselhável assinalar a parte superior do refúgio com algum indicativo, inclusive durante o dia.


Tipos de abrigo para a neve


O Covil de neve 

Para se fazer um covil de neve, escolhe-se um banco de neve alto e profundo

1 – Escava-se um buraco e afastam-se os blocos de neve com a ajuda de um saco de plástico.


2 – Quando se estiver dentro do buraco começa-se a ampliar o covil e a escavar umas plataformas para dormir, de forma que fiquem acima do nível da entrada (o ar frio desce e o ar quente sobe).


3 – Com os blocos que tiramos do buraco e posteriormente deixamos congelar, taparemos a entrada do abrigo, deixando apenas uma abertura, suficientemente grande como para passar por ele arrastando-nos. Uma vez dentro da cova, espetamos o piolet ou o bastão na parte de cima da entrada para fazer um buraco de ventilação. Não devemos esquecer de deixar algo que identifique o covil por cima da entrada.


O interior do covil de neve pode ter diversas disposições, variando em função do número de pessoas, do espaço disponível, do gosto, etc. Nunca devemos esquecer os furos de ventilação e que devemos ficar sempre num patamar situado acima do nível da entrada.






Trincheira ou vala de neve

Consiste num abrigo temporário que permite ao sobrevivente ter tempo suficiente para construir um outro de carácter mais permanente. Deve-se procurar uma galeria de neve com pelo menos 1 metro de profundidade e cortam-se blocos de maneira a formar uma vala com a largura de um saco cama e com comprimento suficiente para o acomodar (figura A). Constrói-se uma parede com blocos em torno da vala (figura B) e cobre-se com grandes lajes (escavam-se um pouco no interior de maneira a formarem um arco). Não esquecer também neste caso o buraco de ventilação. O abrigo Trincheira ou Vala de neve não deve ser utilizado a longo prazo





trincheira combatente

Se a neve é macia, uma trincheira de combate é rápido e fácil de construir. Numa emergência, pode-se até mesmo fazer uma trincheira chutando a neve macia. Primeiro, encontra-se um local protegido contra os elementos. Em seguida, testa-se a profundidade da neve com o bastão ou um pau.

1. Usando uma pá ou panela, ou simplesmente chutando a neve, limpa-se uma vala que seja grande o suficiente para uma pessoa  e seu equipamento.

. Deixar pelo menos profundidade suficiente para se poder rolar durante o sono sem estragar o tecto.


2. Criar uma estrutura de ramos e galhos em toda a trincheira, para fazer uma cama, antes de começar a fazer o tecto.

. Verificar se temos material de cobertura suficiente em cima, para impedir a neve de penetrar no interior.



3. Se tivermos uma folha de abrigo ou de lona, devemos coloca-la em cima do"telhado"  para criar uma camada isolante extra.

. Alternativamente podem-se usar esses materiais para cobrir a nossa “cama”.


4. Cobrir o quadro com pelo menos 12 cm (30 cm) de neve para agir como isolamento.

. Deve-se cavar um pequeno buraco na entrada, para facilitar o acesso ao interior do abrigo.

. Na entrada pode-se fazer um pequeno fogo controlado .



Cova-abrigo apoiada numa árvore

Escolhe-se uma árvore grande que tenha ramos grossos e baixos e que esteja cercada por um alto monte de neve. Aumenta-se a cova natural formada pela neve em torno da árvore. Faz-se um telhado com troncos cortados e ramos  e forram-se as paredes e o chão com os mesmos materiais. Este é um abrigo temporário que se pode usar abaixo da linha de árvores. Quando se fizer este abrigo, é importante não deixar caír a neve que se encontra nos ramos.



Em termos de conclusão, não podemos deixar de sublinhar a necessidade de procurar um refúgio em situações de emergência.

De forma a isolar-nos das condições exteriores desfavoráveis, é fundamental saber aproveitar ao máximo as condições naturais do terreno em que estamos a desenvolver a nossa actividade. Qualquer refúgio por precário que seja é bem melhor do que a intempérie. O principal motivo para obtermos um refúgio deriva da necessidade de evitar ao máximo e na medida do possível  o vento, o frio e a humidade, para não perdermos calor e evitar chegar a situações de hipotermia e/ou de congelações.

Haverá que ter em atenção que o calor corporal perde-se de várias formas:

a) Por convecção – (movimento dentro de um fluido) A pele aquece o ar que está em contacto com ela, ao soltar-se este ar por efeito do vento, esta perda de calor acelera (Chill factor).

b) Por radiação -  A emissão de energia em forma de radiação de infravermelhos desde o corpo para o meio ambiente.

c) Por evaporação – A perda de calor que se produz quer na pele pela evaporação do suor (na transformação de líquido em vapor), bem como nos pulmões através do vapor de água da respiração.

d) Por condução – Perda de calor pelo contacto directo com o ambiente, rochas, neve, água, etc.
Assim é necessário tentar reduzir estas perdas de calor mediante a adopção de um refúgio e protecção adequados, para o que deve ter em atençãomais algumas regras:

. Evitar a exposição ao vento, pois este é o maior agente agravante do frio.

. Evitar a humidade, pois o esfriamento é 20 a 30 vezes mais rápido na água do que no ar seco.

. Isolar o corpo do contacto directo com sítios frios, para evitar a perda de calor por condução.

. Utilizar todos os meios disponíveis, para nos abrigarmos, para reflectir o calor na nossa direcção e evitar a humidade (com o recurso a manta de alumínio, roupa, mochilas, cordas, esquis).

Para optimizarmos o nosso abrigo, devemos ainda saber que:

. No fundo dos vales e junto aos rios é mais frio do que nas colinas.

. O ar quente pesa menos e portanto sobe, e ao contrário, o ar frio (mais pesado) desce para as zonas mais baixas.

. A neve tem propriedades isolantes, tanto no que respeita à temperatura exterior como aos ruídos (vento).

. Se tivermos uma fonte de calor, podemos aumentar o seu rendimento reflectindo  o seu calor através de uma folha de alumínio ou similar e situando-a no meio do refúgio.

. O refúgio, ainda que seja confortável, deve ser pequeno para que o volume de ar ao aquecer não seja excessivo.



Esperemos que nunca necessitem de utilizar estas técnicas em situações de emergência. No entanto após lerem este artigo, com certeza que se alguma adversidade ocorrer na montanha, alguma ideia surgirá para desenrascar a situação.

Por último, deixamos aqui mais algumas ideias de abrigos de emergência que dispensam mais palavras.


Boas caminhadas